quarta-feira, 2 de março de 2011

Selic atinge nível mais alto em dois anos

Fabio Graner, da Agência Estado
SÃO PAULO - Com a presença de dois novos integrantes e duração de quase quatro horas, o Comitê de Política Monetária (Copom) presidido por Alexandre Tombini decidiu elevar pela segunda vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual. Com este movimento, a Selic subiu para 11,75% ao ano, nível mais alto em dois anos (no período de final de janeiro a início de março de 2009, a taxa básica estava em 12,75% anuais). A alta dos juros ficou dentro do previsto pela maioria dos analistas do mercado financeiro, embora parte deles considerasse que a taxa deveria subir mais, por conta do nível elevado da inflação e das projeções dos analistas.

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O comunicado do BC foi mais curto do que o da reunião passada: "Dando seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,75% ao ano, sem viés". Na reunião anterior, o comunicado mencionava que a elevação dos juros, junto com as medidas macroprudenciais, contribuiriam para convergir a inflação para a trajetória de metas.

Com o aumento na taxa básica, o BC dá sequência ao seu esforço de combate à escalada inflacionária. Mas a dosagem utilizada tem coerência com o discurso recente da própria autoridade monetária de que o controle de preços está tendo ajuda das medidas de aperto no crédito e na oferta de dinheiro da economia (chamada de ações macroprudenciais) e também do reforço na política fiscal - vale lembrar que nessa semana o governo detalhou o corte de R$ 50 bilhões em despesas do orçamento.

O uso dessa dosagem do remédio juros também está relacionado, ainda que implicitamente, à preocupação de não desacelerar demais o ritmo de atividade econômica do País. Há uma grande preocupação no governo de que o crescimento do País não seja muito inferior a 4%, taxa considerada abaixo do potencial de crescimento (para o mercado, em média, o potencial seria de 4,5%, número relativamente alinhado com o pensamento do BC, enquanto para o ministério da Fazenda, a capacidade de crescimento sem inflação estaria em 5%).

Em nota para seus clientes distribuída hoje de manhã, o departamento econômico do Bradesco considerava que a elevação de 0,5 ponto porcentual na Selic se insere em um ação coordenada de política econômica (que inclui um fiscal mais forte e as medidas macroprudenciais) para levar a inflação para o centro da meta (4,5%) em 2012. Além disso, o banco lembrava que já há uma desaceleração em curso da atividade econômica (reforçada pelo dado de hoje mostrando alta de apenas 0,2% na produção industrial de janeiro) e que parte da deterioração da inflação e das expectativas é reflexo do choques nos preços de commodities, que serão acomodados na banda de tolerância da meta, que vai até 6,5%.

O economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, também esperava alta de 0,5 ponto porcentual na Selic, o que mostra um BC de fato atuando contra a alta da inflação. Mas, na visão dele, o quadro de aceleração dos preços e das expectativas inflacionárias demandaria um aperto maior, da ordem de 0,75 ponto porcentual.

Barbosa ponderou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está muito alto e as expectativas continuam subindo, colocando em risco inclusive a possibilidade de o teto da meta (6,5%) ser superado neste ano. Além disso, ele avaliou que ainda não há elementos suficientes para se dizer qual a magnitude da desaceleração econômica e tampouco se ela continuará ao longo do ano. Dessa forma, o fato concreto, na visão dele, é que as vendas do varejo e o mercado de trabalho mostram uma demanda muito aquecida que precisa ser contida. E nesse sentido, acredita, uma ação mais forte talvez fosse mais eficiente e até poderia reduzir o tamanho do ajuste total em curso.

Para o economista do Sicredi, a decisão tomada pelo BC mostra que a autoridade realmente aposta na combinação do ajuste da Selic com o aperto fiscal e nas condições de crédito para conter a inflação. Também reforça a percepção de que o órgão não está tão preocupado com a escalada das expectativas para o IPCA, que o BC considera muito contaminada pelos dados correntes de inflação.

Texto atualizado às 20h52

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