quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Hoje é dia o palhaço

Hoje é dia o palhaço. E não precisa estar no picadeiro ou maquiado para saber fazer rir. Todo comediante tem um quê de palhaço, porque sabe ser engraçado. Não importa o local, não importa a hora, o verdadeiro comediante sabe tirar proveito de qualquer situação para provocar risadas, seja de maneira escrachada como Jerry Lewis, ou refinada como Diane Keaton. Não ria, se for capaz.
Quando se pensa em comédia, o primeiro nome que vem à mente é o de Charlie Chaplin. O ator e diretor soube utilizar sua persona para o humor, mesmo quando foi impedido de filmar nos EUA. Quem assiste a Luzes da Cidade, O Garoto, Tempos Modernos ou O Grande Ditador, tende a permanecer com as imagens de sua criação genial chamada Carlitos.
Buster Keaton é o humor em pessoa. Ele pode não rir, pode até passar uma idéia de tédio em seu rosto. Mas as situações criadas em torno dele, e constantemente por ele, conseguem arrancar gargalhadas de qualquer ser vivo. Em filmes como A General, Go West, O Homem das Novidades ou Sherlock Jr., Keaton orquestrou gags visuais inesquecíveis, que fizeram com que muita gente o considerasse o melhor comediante de todos os tempos.
Ídolo das chanchadas da Atlântida, Oscarito, junto de seu grande parceiro de tela Grande Otelo, é muitas vezes considerado o maior comediante brasileiro. Em filmes como O Homem do Sputnik, Nem Sansão Nem Dalila e Aviso aos Navegantes, o ator transmitia doses cavalares de alegria. À simples aparição de seu rosto já podemos responder com, no mínimo, um sorriso no canto da boca. Mas Oscarito era capaz de nos levar às gargalhadas com muita facilidade.
O que dizer de Jerry Lewis? Seu humor era ao mesmo tempo desconcertante e direto, intelectual e infantil, grosseiro e refinado. Lewis conseguiu reunir muitos estilos em uma pessoa só. E mesmo assim, construiu um modo de fazer rir que era só dele. As comédias que fez com Dean Martin ofereciam as pausas musicais, que quase sempre também eram cômicas. Os filmes que fez sozinho, com direção dele mesmo ou de Frank Tashlin, estão entre os melhores momentos da comédia no cinema. Assista a Terror das Mulheres, O Otário ou Errado pra Cachorro e comprove.
Falando em Jerry Lewis, muita gente aponta Jim Carreycomo seu legítimo sucessor. Carrey quis provar que pode interpretar personagens dramáticos, e fará um presidiário gay em I Love You Phillip Morris, mas sempre será lembrado pelo debilóide que corria atrás de mulheres em Débi e Lóide, ou pelo detetive falastrão e careteiro de Ace Ventura - Um Detetive Diferente, ou pelo esquizofrênico de Eu, Eu Mesmo e Irene.
Grande Otelo contracenava com Oscarito em muitas chanchadas nos anos 1950, mas talvez o papel mais marcante e engraçado de sua carreira seja o de Macunaíma, no filme homônimo de Joaquim Pedro de Andrade (O Padre e a Moça). Otelo também foi Zé Kéti, numa interpretação memorável em Rio Zona Norte. Além desses, fez diversos outros filmes, como A Agonia e O Rei do Baralho, ambos de Júlio Bressane (Cleópatra); e Ladrões de Cinema, de Fernando Coni Campos (O Mágico e o Delegado). Seu carisma era imensurável.
Muita gente não gosta do estilo falador de Roberto Benigni, mas é inegável sua contribuição para a comédia, sobretudo em Down By Law, de Jim Jarmusch, e o premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro A Vida é Bela, que ele mesmo dirigiu. Sua carreira está momentaneamente em baixa, mas não duvidamos que ele possa voltar ao patamar que atingiu noo final dos anos 1990.
Por trás da centenária rabugenta e desbocada chamada Dercy Gonçalves está uma das grandes atrizes cômicas do nosso país. Capaz de fazer rir até defunto em filmes como A Grande Vedete, Cala a Boca Etelvina e A Baronesa Transviada, Dercy foi sumindo dos cinemas e migrando para as novelas de televisão, conseguindo muito sucesso em Cara a Cara, da Bandeirantes.
Jacques Tati é um dos comediantes mais originais de todos os tempos. Capaz de unir a presença cênica de Chaplin à habilidade de Keaton para se meter no centro das maiores confusões, Tati construiu o personagem do Mr. Hulot, surgido em As Férias do Mr. Hulot, e retomado em Meu Tio, Playtime - Tempo de Diversão e As Aventuras do Mr. Hulot no Tráfego Louco, todos dirigidos por ele. Um outro clássico, que já teve relançamento de sucesso no Brasil é Carrossel da Esperança, um dos filmes mais sensíveis já feitos sobre a infância.
Quem nunca viu um filme com Os Trapalhões não é brasileiro. Por trás do exagero da colocação está o fato de que entre os maiores sucessos de bilheteria nos cinemas brasileiros estão vários filmes protagonizados pela turma comandada por Renato Aragão, o eterno Didi Mocó. Com um humor circense, que utilizava Dedé Santana como escada e Zacarias e Mussum como aliados patetas, Didi provocava (e ainda provoca, mas agora sozinho) muitas risadas com seu jeitão malandro e sua fisionomia simpática - e por isso as crianças sempre o adoraram. Entre as melhores aventuras de sua trupe no cinema destacamos Os Trapalhões no Planalto dos Macacos, Os Trapalhões no Auto da Compadecida e Os Saltimbancos Trapalhões.
Ben Stiller já filmou com os especialistas irmãos Peter e Bobby Farrelly, dois bambas do humor americano, e Quem Vai Ficar Com Mary? e Antes Só do Que Mal Casado, mas vai ser sempre lembrado como o noivo atrapalhado de Entrando Numa Fria, em que tentava escapar da marcação cerrada do pai de sua noiva, um ex-agente da C.I.A. interpretado por Robert De Niro (Táxi Driver). Nesse filme de Jay Roach (da série para cinema Austin Powers) está a marca de Stiller: uma incapacidade de se enquadrar na sociedade que lhe é apresentada.
Muito elogiada por atuar nas comédias cerebrais de Woddy Allen, Diane Keaton fez escola com seu jeito de vestir ligeiramente masculinizado, o que não tirava sua feminilidade de maneira alguma, e sua aptidão para papéis de moça descolada. Entre os destaques dessa época estão Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Manhattan. Recentemente, Diane Keaton construiu uma nova persona, a de coroa simpática em comédias destinadas a um grande público, como a recente Loucas por Amor, Viciadas em Dinheiro. Há quem prefere a atriz das comédias intelectuais, mas ninguém pode negar o seu enorme talento.

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