segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vítimas são levadas por criminosos armados e tornam-se reféns por alguns minutos, mas este tempo vira pesadelo




O estudante sai da academia de ginástica. No momento em que entra em seu carro é surpreendido por três bandidos, aparentemente adolescentes. Com armas apontadas em sua direção, o jovem é obrigado a entregar as chaves do veículo e acaba empurrado para o banco traseiro. Dali em diante, passará cerca de meia hora em poder dos assaltantes juvenis, que farão saques em sua conta bancária nos caixas eletrônicos.

A cena descrita acima aconteceu há duas semanas na periferia de Fortaleza. O jovem (identidade preservada) conseguiu escapar com vida da empreitada criminosa praticada por três adolescentes, que acabaram presos num cerco do Ronda do Quarteirão. Mas, poderia ser qualquer cidadão fortalezense, já que os sequestros-relâmpagos, ou ´roubos com restrição da liberdade´, como a Polícia prefere chamar, voltaram a inquietar a população da Capital cearense e a preocupar as autoridades.

Registros

Na semana que passou, sequestros-relâmpagos foram registrados em bairros como a Parquelândia, Aldeota e Fátima. Em um deles, a vítima foi rendida na porta de casa e deixada, cerca de 40 minutos depois, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Os criminosos decidiram abandonar a vítima, mas levaram sua caminhonete (ainda não localizada).

"A preocupação neste tipo de ocorrência é evitar que , mesmo durante uma perseguição policial, haja confronto com os bandidos, pois, normalmente, a vítima ainda está em poder dos criminosos e a Polícia não pode colocar a vida do refém em perigo a mais do que já está sendo feito pelos próprios bandidos´, ensina um oficial da PM. Ouvido na semana passada, o policial, que preferiu manter-se no anonimato, afirma que o ´roubo com constrangimento da liberdade´ já teve índices bem maiores em Fortaleza em anos anteriores. Porém, agora, mesmo com a presença de mais policiamento nas ruas da Capital, os bandidos voltaram a adotar tal prática delituosa.

´Mas não é como antes. Os casos acontecem mas em escala bem menor. Porém, isso não significa que a Polícia não deva se preocupar com estas ocorrências´, completa o militar.

Noite

Segundo registros da Polícia, através da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops), em seus registros de ocorrência colocados na internet (site da SSPDS), os sequestros-relâmpagos costumam acontecer, em sua maioria, no período da noite. E esta é realmente uma importante constatação das autoridades da Segurança Pública. Os ´sequestros´, em sua maioria, ocorrem entre 18 e 22 horas, período em que ainda é possível a realização de saques bancários, tantos nos caixas eletrônicos de agências como em outros pontos como postos de combustíveis, shoppings, supermercados ou quiosques de rua.

Refém

Arrebatada nas proximidades da Praça da Imprensa, no bairro Dionísio Torres, uma jovem universitária (identidade preservada) foi deixada, minutos depois, próximo à Cidade dos Funcionários. Localizada pela Reportagem na semana passada, a estudante contou que sua família preferiu não prestar queixa. O carro da universitária foi encontrado horas depois. Estava com pequenas avarias.

Ao lado dos assaltos conhecidos como ´saidinha´ ou ´chegadinha´ bancária, os sequestros-relâmpagos são as ocorrências mais comuns nas capitais brasileiras. As autoridades, porém, criticam a postura como a adotada pela jovem do caso citado anteriormente.

"Sem o registro da ocorrência, a Polícia não tem como mensurar a quantidade de ocorrências, onde ela está acontecendo com maior frequência, qual o modus operandi dos criminosos e até suas rotas de fuga. Assim, fica impossível o planejamento de operações que visem o combate ao delito", afirma outro oficial.

Também vêm preocupando as autoridades policiais em Fortaleza os ataques a coletivos. Em ônibus e topiques voltaram a ocorrer assaltos nas duas últimas semanas. Este ano, três passageiros foram assassinados durante os roubos.

BANCOS MAIS SEGUROS
Bandidos mudaram o modo de agir

"Estamos observando uma mudança no ´modus operandis´ daqueles que praticam essa modalidade criminosa. Antes, os acusados permaneciam com as vítimas por mais tempo, levando-as às agências bancárias, tirando tudo o que pudessem das contas, em mais de um banco. Agora não. Ficam pouco tempo no carro, com as vítimas, subtraindo-lhes apenas os pertences pessoais e objetos de valor que houverem no veículo, como som, DVD, notebook", relata o delegado Romério Moreira de Almeida, titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).

Para ele, a mudança se deve principalmente ao aumento da segurança nas agências bancárias - com instalação de mais câmeras de filmagem nos caixas eletrônicos e restrição de valores a serem sacados durante as noites e fins de semana. "Paralelamente a isso, houve também uma intensificação do trabalho da Polícia no sentido de identificar envolvidos nessa modalidade criminosa e inibir a prática, com ações de prevenção nas ruas e locais de maior incidência", lembra.

Segundo ele, alguns casos de ´roubos com restrição de liberdade da vítima´, popularmente conhecidos como sequestros-relâmpagos, são registrados na DRF. "Muitos são registrados nas delegacias distritais, hoje em dia".

Bairros

De acordo com o delegado, outra mudança observada na prática deste tipo de crime, é que eles têm ocorrido em bairros diversos, e "muitos acontecem na periferia da Capital".

Para Romério, o que mais chama a atenção dos criminosos são objetos de valor deixados sobre os bancos dos automóveis. "Bolsas, notebooks. Os bandidos escolhem pelo que chama a sua atenção e pela facilidade", ressalta. Por isso, aponta o titular da DRF, "a maioria das vítimas são mulheres".

BOLSAS NO BANCO
Mulheres são maior parte das vítimas

A principal dica da Polícia para evitar que o cidadão vire alvo dos assaltantes quando estão em seus veículos é não deixar objetos de valor à mostra. "Em geral, os criminosos buscam a facilidade, o que chama a atenção deles", ressalta o delegado de ´Roubos e Furtos´ Romério Almeida.

E foi justamente uma bolsa grande sobre o banco do carro que fez com que a fisioterapeuta ´Alice´ (nome fictício), de 36 anos, virasse uma vítima de sequestro-relâmpago. "Eu estava no carro com meu filho de três anos. Ele estava na cadeirinha, no banco traseiro. A gente cantava músicas infantis e realmente eu estava desatenta".

Quando percebeu a aproximação de dois rapazes - um deles carregando um revólver nas mãos - ´Alice´ pensou que queriam roubar sua bolsa. "Não era só isso. Eu implorei que levassem a bolsa e me deixassem ali com o neném, mas eles entraram no carro. Um deles aparentava ser bem jovem, ainda garoto, com uns 14, 15 anos. E tremia com a arma na mão", lembra a fisioterapeuta.

Segundo ela, um dos bandidos sentou com a criança atrás do carro. "Eu fiquei apavorada, temendo que algo acontecesse ao meu filho. Eles arrancaram o som do carro, abriram porta-luvas para ver o que tinha ali, e reviravam minha bolsa. Tudo isso mandando que eu continuasse dirigindo".

´Alice´ e o filho permaneceram cerca de 15 minutos com os bandidos no automóvel. "Pareceu mais tempo, uma eternidade. O que me aconteceu, não desejo a ninguém".

FERNANDO RIBEIRO/NATHÁLIA LOBO
EDITOR DE POLÍCIA/SUBEDITORA

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