domingo, 24 de abril de 2011

A bebida surge como marca da cidade de Sousa, fruto da cultura mais disseminada entre os produtores locais




Sousa (PB)

Sousa é o centro da fruticultura do polo Alto Piranhas, que engloba mais de dez municípios. Por lá, um novo projeto, Várzea de Sousa, está trazendo ao perímetro irrigado a produção de manga, goiaba, banana, coco e horticultura orgânica. Mas a agricultura irrigada por ali é coisa mais antiga e, por mais que ainda tenha muito a avançar, conseguiu carimbar na cidade uma marca: é de Sousa que sai a melhor água de coco do Brasil.

A cultura do coco é, sem dúvida, a mais disseminada entre os produtores rurais do município. No local, dados oficiais apontam para uma produção de 120 mil a 150 mil cocos por dia, que saem, principalmente, para os estados do Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo e ainda Brasília. Mas, na prática, o volume é bem maior. Se for contar com aquilo que se produz e sai sem declarar imposto, são em torno de 230 mil. Os sonegadores respondem por uma parte importante desse montante.

Independentemente de o dinheiro devido chegar ou não ao Fisco, o certo é que o coco movimenta uma forte economia em toda a região, empregando milhares de pessoas no município, e com um grande trunfo: "o coco garante a permanência do homem no campo", destaca o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Sousa, Caetano José de Lima.

Geração de empregos

A atividade teve início ainda na década de 1930, com a construção do açude São Gonçalo, e se fortaleceu na década seguinte. Hoje, no perímetro irrigado instalado ao lado do açude trabalham cerca de 10 mil pessoas, plantando coco e banana.

Entre estes produtores está João Paulo Formiga, 28. Terminando os estudos do Ensino Médio, e após se casar, Formiga resolveu alugar um lote no perímetro, e há cinco anos planta e colhe coco.

"A colheita ocorre a cada 40 dias. Tenho 300 pés em um terreno de cinco hectares, que dão cerca de sete mil cocos", explica o produtor.

A colheita é repassada aos atravessadores, que compram a unidade por preço que varia entre R$ 0,15 e R$ 0,50. Apesar de baixo, o valor é considerado razoável pelo produtor, em virtude do volume produzido. "A vantagem é que tenho a certeza da venda. E está dando certo, não penso por enquanto em trocar de atividade", afirma.

Já a opção pelo coco como atividade produtiva veio para Agumercindo Alves, 62, após encontrar dificuldades em outras culturas. Já plantou banana, algodão, tomate e arroz, mas diz ser o coco a alternativa financeiramente mais viável que encontrou.

Garantia de sobrevivência

"Mudei pela sobrevivência. Com as outras culturas não dava para sobreviver. Como coco gasta menos água, porque precisa de um espaço menor. Assim, consigo produzir mais em menor área", justifica.

Com um lote de 4,5 hectares, ele tira entre oito mil e 13 mil cocos por colheita. "São 326 pés produzindo. O resto tá crescendo. Ao todo, tenho 500 pés", revela ele, com a conta na ponta da língua.

Mais renda

Agumercindo afirma que sua renda melhorou. "O problema do coco é o tempo que passa para crescer, que é uns quatro anos. Depois que cresce, é bom", garante. O produto dele é levado ao Ceará, São Paulo, Brasília, Iguatu e Recife. Ele informa que também produz banana - mas ganha mais com coco.

LADO NEGATIVO
Trabalho duro e crianças na produção

Para levar o coco do produtor aos mercados consumidores, uma série de trabalhadores se envolvem na cadeia: tiradores, carregadores, intermediários (ou "atravessadores"), entre outros. Para alguns, o trabalho é bem pesado. "Tem gente que já perdeu o olho, quebrou o nariz tirando coco", lembram os trabalhadores na fazenda, falando dos riscos que correm os "tiradores de coco".

Já para os "carregadores", que levam os cocos até os caminhões, não há tantos riscos de acidente, mas a certeza de um trabalho bem pesado.

"Eles carregam, em média, 100 quilos por vez", faz a conta um deles. Para pôr as cerca de sete ou oito mil unidades dentro da carreta, são apenas três carregadores, em média.

Esforço diário

Este é o trabalho de Eduardo Honório, 26. Ele vai tirando coco de lote em lote, quase todo dia, no perímetro. "São uns 300 cachos por dia, cada cacho com 20 cocos", informa. Ele recebe por "carrada" (que é de mais ou menos sete mil cocos) R$ 50. Honório consegue tirar, por mês, R$ 750, e se diz satisfeito. "Aqui, se não for o coco, é o coco. Não tem outra opção de emprego", fala.

A mesma "carrada" carregada por Honório representa, contudo, um pouco mais para João dos Cocos, 44. Ele é intermediário, traz o caminhão às fazendas para ser carregado e o leva aos seus destinos: Caruaru, Brasília, Recife e Fortaleza. "Carrego aqui toda semana, sete mil cocos em cada caminhão, que chego a encher em três horas. Tem dia que ponho pra carregar três caminhões", diz. Cada carrada rende a ele R$ 150.

Crianças empunham facões

Chegando ao Perímetro de São Gonçalo, fomos em busca de algum lote que estivesse colhendo coco e carregando caminhões. Recebemos a informação de uma fazenda neste estado e, na estrada para chegar lá, encontramos um grupo de pessoas trabalhando em fazer a "pelagem" do coco. Paramos para conferir.

No meio do grupo, enquanto homens conversavam e tomavam uma cachaça, algumas crianças levantavam destramente facões para retirar o bagaço do coco seco.

Três "Franciscos", um de 14, outro de 15 e mais o último de 16 anos manobravam concentrados seus facões. Ao redor, um chão coberto de bagaço. "Tamanho não é documento", um diz, sem tirar o olhar do ofício.

O outro, de 16, conversa um pouco mais. Diz que descasca 1.400 cocos por dia, e recebe, por isso, R$ 400 mensais, R$ 100 por semana. Não fala quando vai à escola, se vai. "Faço isso pra ajudar meus pais. Meu pai carrega o coco nos carros", diz. Com o que recebe, compra suas roupas e deixa o que ainda sobra para a família.

O coco descascado pelos "Franciscos" é levado a uma fábrica de Campina Grande, onde é beneficiado, sendo transformado em coco ralado e óleo.Publicado em 24 de abril de 2011 .

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