Quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
ISSN 1519-7670 - Ano 15 - nº 623 - 4/1/2011
FOGO NO CIRCO
O PMDB e a primeira crise do governo
Por Luciano Martins Costa em 5/1/2011
Comentário para o programa radiofônico do OI, 5/1/2011
Abertamente ou de forma velada, os jornais desta quarta-feira [5/1] informam que o PMDB tenta chantagear a presidente da República para aumentar sua participação no governo. Mas o partido do senador José Sarney não busca maiores responsabilidades ou mais protagonismo nos cargos estratégicos que definem as políticas públicas. Segundo a imprensa, o que deseja a agremiação é controlar algumas das grandes verbas do orçamento nacional.
Dito assim, parece que a política é apenas a oportunidade de privatizar algum dinheiro na administração de verbas públicas. Mas não pode ser apenas isso, ou a República já teria desmoronado há muito tempo.
Berço do velho "centrão", cujos representantes se celebrizaram, justamente no governo do ex-presidente José Sarney, pela máxima segundo a qual "é dando que se recebe", o PMDB e o veterano senador maranhense fazem o possível para que a opinião pública os veja como representantes do pior que pode haver na política.
Alguns jornais consideram que o atual impasse na composição do segundo escalão do governo já configura uma crise. "Primeira crise interna", diz o Globo na primeira página, informando que o PMDB usa a medida provisória que define o valor do salário mínimo como arma para pressionar a presidente. O governo, através do ministro da Fazenda, Guido Mantega, estabelece o limite: qualquer valor acima de R$ 540 será vetado.
Em nome do interesse dos trabalhadores, a proposta peemedebista de aumentar o índice de reajuste do salário mínimo esbarra em estudos da área econômica do governo anterior e em acordos feitos com organizações sindicais, de recuperação do valor do salário conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor e a variação do Produto Interno Bruto nos dois anos anteriores. No entanto, durante os dois mandatos de Lula da Silva, ocorreu quase todos os anos uma pequena variação, sempre para cima, contrariando as orientações da área econômica.
Neste ano, a queda de braço promete ser mais dura: afinal, a presidente Dilma Rousseff assumiu tendo como uma de suas principais bandeiras o controle das contas públicas. A imprensa tem defendido essa posição em editoriais, mas não perde a oportunidade de ver o circo pegar fogo.
Problema adiado
O PMDB também utiliza, como moeda de troca, as eleições das mesas diretoras da Câmara e do Senado, ameaçando romper o acordo de revezamento que tem com o PT. Assim, a cada dia os jornais anunciam manobras e conspirações apontando este ou aquele novo candidato a presidente da Câmara dos Deputados, lembrando que, no governo Lula, o impasse entre os dois principais aliados acabou jogando o comando da casa legislativa no colo do deputado Severino Cavalcanti, do PP.
Segundo o Painel da Folha de S.Paulo, a confusão está lançada e até mesmo dentro do PT há parlamentares trabalhando contra o candidato do partido à presidência da Câmara.
Para evitar que essa disputa venha a contaminar as negociações para composição do governo, a presidente da República decidiu adiar para depois das eleições no Congresso a definição dos novos ocupantes de postos de segundo escalão.
Adia-se o problema, mas nada fica resolvido.
Na verdade, o que não está dito é porque, a cada mudança de governo, repete-se o espetáculo grotesco da guerra por cargos oficiais. Não basta o argumento de que os partidos precisam de boas fontes de onde possam distribuir benesses a seus apaniguados.
Em todos os governos anteriores, desde a redemocratização – e não apenas no plano federal – as denúncias de corrupção sempre estiveram associadas, de uma maneira ou de outra, a essa exótica forma de remunerar correligionários ou de prover fundos para campanhas eleitorais. Trata-se de um círculo vicioso que precisa ser interrompido em algum momento.
Até aqui, a presidente da República tem mantido a decisão de ocupar com quadros técnicos os cargos mais sensíveis da administração, como a direção dos Correios e a Funasa. Seu perfil, menos afeiçoado a achegos políticos que o de seu antecessor, faz antever uma disputa mais acirrada que deve se estender provavelmente até março.
A eficiência do governo pode depender de quanto será cedido nesta etapa de sua formação, e para manter sua determinação a chefe do Executivo precisa de apoio da opinião pública.
Será interessante observar a imprensa nesse período
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