segunda-feira, 5 de julho de 2010

China celebra os 60 anos da República Popular


China celebra os 60 anos da República Popular
por Tereza Cruvinel




Com uma economia vigorosa que não se abalou com a crise internacional de 2008 e preservou intocado o modelo político implantado com a Revolução Comunista de 1949, a China celebra amanhã (1º), com festa apoteótica, os 60 anos de fundação de sua República Popular. Os preparativos vêm ocupando o governo chinês há alguns meses e nas últimas semanas a Praça da Paz Celestial, a Tinamem, já estava cheia, pela manhã, de chineses em visita ao Mausoléu de Mao Tsé Tung.

Diferentemente dos russos, que com suas escaramuças internas chegaram a banir Trotsky e outros “caídos” das fotografias oficiais, a China rompeu com os métodos e com a política de Mao, a partir de sua morte e da ascensão do liberalizante Deng Xiao Ping, em 1976, mas preserva sua mística. Ainda que seja apenas como retrato nas paredes, no panteão e nas cédulas de Yuans.

A grandiosa festa, com desfile militar e apresentações artísticas, é coordenada pelo cineasta e cenógrafo Zhang Yimou, organizador das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de 2008, que encantaram o mundo pela beleza e harmonia. A celebração coincidirá, por um ajuste de calendário que a tradição admite, com a popular Festa da Lua, reunindo num só evento a nova e a velha China. Além de desfiles e apresentações artísticas, não faltará a demonstração de força militar.

Mas o que os chineses estão celebrando mesmo é o triunfo do modelo que chamam de “socialismo com características chinesas”, produto da abertura econômica implantada em 1976 e da manutenção do regime político, pondo fim aos turbulentos e revolucionários tempos de Mao.

A abertura ao capitalismo, atraindo empresas estrangeiras com mão de obra, custos sociais reduzidos e estabilidade política, propiciou à China o crescimento a taxas próximas dos 10% ao ano por mais de uma década, a acumulação das maiores reservas cambiais do mundo (US$ 2 trilhões, dez vezes mais do que as brasileiras), a construção de uma invejável infraestrutura urbana e produtiva e um aumento de 17 vezes na renda da população dos grandes centros urbanos.

A outra metade dos chineses que ainda vive no campo e no interior, entretanto, tem renda muita baixa e está longe da onda de consumo dos bem sucedidos. Pode parecer estranho, mas os dirigentes comunistas de hoje dizem que o enriquecimento de uma parcela servirá de estímulo para os que ainda não chegaram lá. Esta é a lógica das sociedades liberais e, sem dúvida, a desigualdade social aprofundou-se.

Os países do Ocidente olham para a China com um misto de inveja e preocupação, reconhecendo o êxito econômico, mas reiterando duas críticas que parecem incomodar os chineses do governo. Uma é o modelo político que mantém o partido único, a limitação das liberdades e a imprensa estatal. Outra é o uso intensivo de recursos naturais e um modelo produtivo que rendeu à China o desonroso título de maior emissor de gases poluentes.

Empenhados em vender a ideia da Nova China e em mostrar que as coisas vão além das aparências, o serviço de informação do Conselho de Estado tem levado jornalistas estrangeiros ao país para ver de perto as mudanças, principalmente as relacionadas com a nova ênfase do crescimento econômico que passa a ser voltado para o uso de tecnologias limpas e não para o consumo desenfreado de recursos naturais. Em setembro, lá estiveram jornalistas de seis países latino-americanos, numa viagem em que puderam ver, além de maravilhas como a Cidade Proibida e a famosa Muralha, a pujança da China desenvolvida das megalópoles Pequim e Xangai. Mas puderam ver também as carências das áreas mais atrasadas, na província de Guishou, no sudoeste do país. As reportagens que fazem parte da série “As Muitas Faces da China” são produto desta viagem.

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