Especiais
A revelação de Raquel
15/2/2011
Por Mônica Pileggi
Agência FAPESP – A arqueologia é uma ciência capaz de preencher as lacunas da história ao desenterrar questões que há séculos, talvez milênios, repousam sem respostas ou carregam consigo alguns segredos. Na disciplina bíblica, tema do mestrado de Gabriella Barbosa Rodrigues, com Bolsa da FAPESP, foi preciso ir até Israel para tentar entender o passado.
Em agosto de 2010, a estudante integrou uma equipe de escavação ao lado de participantes de diversos países, em Ramat Rahel, em Israel. Embora a América Latina tenha vários sítios coloniais e pré-históricos, para aqueles que buscam informações sobre a Gênese como narrada nas escrituras sagradas o destino mais procurado para fazer o trabalho de campo é o Oriente Médio, palco dos principais acontecimentos durante o período bíblico.
“Ramat Rahel é o nome de um kibutz fundado em 1926 no local onde hoje se encontra o sítio arqueológico. O nome significa algo como ‘morro de Raquel’, pois fica entre Belém e Jerusalém, ao lado da chamada tumba de Raquel, onde estaria sepultada a personagem bíblica mulher de Jacó”, explicou Gabriella à Agência FAPESP.
O registro da primeira escavação científica no sítio data de 1954, devido à construção de um reservatório de água para o kibutz. Em 2005, Manfred Oeming, professor de Estudos do Antigo Testamento da Universidade de Heidelberg, e Oded Lipschits, da Universidade de Tel Aviv, deram início à sistemática campanha de escavações no local, com estudantes de diversos países.
Ao sul do kibutz fica a cidade de Belém, onde viveu Davi e está a Igreja da Natividade. Do alto da colina é possível observar Jerusalém, onde fica o Santo Sepulcro, que, segundo a tradição cristã, é o local onde Jesus foi crucificado, sepultado e ressuscitou.
Ao leste de Ramat Rahel está a rota que leva ao mar Morto e, a oeste, o monastério de Elias e o vale de Refaim, descrito no Antigo Testamento como o campo onde os filisteus perderam a batalha para o exército de Davi.
Meses depois de participar da temporada de duas semanas em agosto, Gabriella retornou à pesquisa, dessa vez na Alemanha, onde se encontra atualmente. Convidada por Oeming, a mestranda agora estuda o material retirado do solo nas escavações.
“Isso consiste em desenhar o material e classificá-lo para que ele possa servir para futuras investigações”, explicou Pedro Paulo Funari, arqueólogo e professor titular da Unicamp, que desde o ano passado coordena o Centro de Estudos Avançados da universidade.
“É um trabalho de meses que se segue após a escavação, para que seja possível produzir um relatório com todas as peças descritas e classificadas de acordo com as tipologias existentes. Com isso, é possível saber a datação das peças e a que grupo humano pertencia, entre outras informações”, disse Funari.
Gabriella conta que o sítio de Ramat Rahel apresenta uma estrutura complexa devido às ocupações em períodos diversos – do séc. 8 a.C. ao 8 d.C. – e, por conta disso e da mistura de estilos arquitetônicos, seu sistema de distribuição de água é considerado exemplo único na região.
Prevista para terminar em 2009, a campanha dos professores Oeming e Lipschits encontrou na última temporada um túnel que poderia ajudar a esclarecer a complexidade desse sistema de distribuição. “Por conta disso houve a decisão de escavar novamente em 2010, em uma temporada concentrada: mais curta e com trabalhos diários”, disse Gabriella.
Funari destaca o crescente interesse pelo campo da arqueologia entre estudantes brasileiros. “Os alunos têm percebido que hoje é possível participar de escavações em outros países e também interagir com grandes cientistas, que depois vêm ao Brasil para ministrar cursos”, disse.
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