O encontro de Davos
A reunião do Fórum Econômico Mundial terminou este ano sob o signo do medo diante das insurreições que estalam no Oriente Médio. As rebeliões, na Tunísia primeiro – a Revolução de Jasmim que pôs fim a um regime ditatorial de 23 anos –, Egito agora, Jordânia e Iêmen provavelmente amanhã, são, no entendimento da elite econômica mundial reunida em Davos, na Suíça, consequências das dificuldades de sobrevivência agravadas nos países mais pobres pela pior crise global da economia. Em assento privilegiado do Fórum, o presidente Medvedev, da Rússia, sintetizou em uma frase o fantasma que assombra Davos: as rebeliões são lições aos governos do mundo, que devem ouvir o que o povo tem a dizer, ou perderão o contato com a realidade.
Apesar desse temor, que já repercute no preço do barril de petróleo, o Fórum foi encerrado no tom otimista de quem conseguiu sobreviver a uma grande crise mais rápido do que se imaginava e vê a economia se ajustando, apesar das discordância em torno dos caminhos possíveis a serem percorridos. Foi nesse cenário que o Brasil entrou como personagem detentor de papel importante na balança do poder econômico mundial, principalmente por fazer parte de um bloco de vida recente mas que já está dando o tom para a ordem econômica, ao lado da China, Índia e Rússia.
Os dirigentes europeus, mergulhados em dificuldades profundas, procuraram sintonizar o discurso de que a Eurozona já passou pelo pior, apesar dos sinais de doença, ainda, em alguns dos seus membros, a começar pela Grécia e Irlanda – que vêm exigindo socorro gigantesco – além do rosário de outros membros com dívidas públicas e déficits astronômicos.
Tirados os detalhes que fazem parte da crônica corrente – como o caso das dificuldades europeias – o cenário exposto no final do encontro mostra o que já vem sendo preconizado pelos economistas e estudiosos desde meados do ano passado: os emergentes impulsionam a retomada do crescimento da economia, chegando, mesmo, a uma velocidade acima do desejado, posto que está se criando um ambiente inflacionário ameaçador. “Os desafios para a economia são o superaquecimento, a inflação e o surgimento de bolhas”, na avaliação do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. E uma dessas bolhas foi revelada em Davos: a do mercado imobiliário chinês, descrito como “uma demanda tremenda”.
Esse quadro é o que deve permanecer em 2011, com uma medicação que ameaça provocar efeitos colaterais. Para a Europa, a prioridade deve ser enfrentar o fantasma das dívidas gigantescas, o que significa programas de austeridade orçamentária, bandeira acenada pela representação britânica. Para os Estados Unidos, essa é uma postura equivocada para a reativação da economia e o melhor remédio é exatamente o contrário, cabendo aos governos em momentos de crise investir para aquecer a economia, a velha lição keynesiana.
Para o secretário do Tesouro estadunidense, Timothy Geithner, os fundamentos do crescimento “serão a qualidade do talento que produzimos através do nosso sistema educativo. São a capacidade do governo em investir em setores onde só os executivos podem, porque o mercado não vai investir, ele mesmo e o que é necessário, na ciência e na investigação”.
Para o nosso País, Davos funciona como uma vitrine destinada a tornar mais visível a capacidade de atravessar a crise sem os estragos que ela provocou nos Estados Unidos e vem provocando na Europa. Mas quando pensado fora do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), a presença é tímida, como de resto toda a América Latina.
Nesta edição do Fórum Econômico Mundial de Davos estavam presentes apenas 58 representantes latino-americanos – o Brasil inclusive – para um encontro com mais de 2.400 delegados, entre os quais mil norte-americanos, 50 indianos, perto de 100 chineses e 300 britânicos. Esses números foram realçados pelo presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, chamando atenção para nossa fragilidade e a necessidade de maior envolvimento da América Latina.
Fonte: Jornal do Commercio
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