sexta-feira, 8 de abril de 2011

PARAFUSO SOLTO

Por Walter Hupsel . 17.03.11 - 20h57

Parafuso solto
O capitalismo “humano”, forçado a nascer por conta das ameaças de revoluções, está morto. E foi suicídio friamente calculado. Durante muito tempo acreditamos que a humanidade caminhava para o progresso, para a saída da menoridade, uma época de paz, liberdade e prosperidade seria alcançada. Com o progresso tecnológico, o homem estaria livre do mundo do trabalho, podendo pescar à tarde e fazer poesia de noite.

Mas a própria lógica do capitalismo fez com que o sonho de um El Dourado se transformasse no seu contrário, e imperativo da produtividade e da concorrência está nos transformando em máquinas, num amargo regresso ao século 19. Cada vez trabalhamos mais e vivemos menos.

O melhor exemplo do capitalismo hoje é, pasmem, a China. E é naquele país que o capitalismo concorrencial encontrou sua máxima expressão, com o lucro acima de tudo. Há notícias estarrecedoras de jornadas de trabalho de 7 dias por semana, e com um salário médio de menos de um dólar/hora. Fora as notícias de maus tratos e constantes suicídios nas fábricas, onde um chinês trabalha e mora (não muito diferente do que acontece em fazendas no Brasil - e aqui).

Esse trabalhador chinês, que sem nenhum prejuízo pode ser chamado de escravo, não tem vida alguma fora do trabalho, já que não sobra o tão sonhado “tempo livre”. Praticamente não conversa com colegas por absoluta falta de assunto, pois nada faz além de trabalhar. Apesar da existência de leis trabalhistas, elas simplesmente não são cumpridas e muito menos fiscalizadas. Tudo em nome da concorrência global.

Mas se engana quem acha que a culpa é da China, isoladamente. Ela apenas se beneficia da estrutura global do capitalismo moderno. As fábricas que lá estão são as grandes corporações mundiais, que buscam os menores custos possíveis para os seus produtos, mesmo que isso leve à morte dos trabalhadores. São fábricas cujas as sedes e os principais acionistas estão em Milão, Berlin ou no Vale do Silício, nos Estados Unidos.

É assim (e também com a desvalorização da sua moeda, o yuan) que os produtos made in China vêm ganhando o mundo. Ruim pros países e pra sua população, que perde emprego e renda (vejam como está a cidade de Detroit, que foi símbolo máximo da pujança estadunidense, sede das principais montadoras de veículos).

Mas enfrentar este problema requer enfrentar a lógica do próprio capitalismo liberal, desregulamentado, que tenta igualar o pobre trabalhador chinês com uma grande corporação. Acontece que blasfemar a China, que foi quem melhor entendeu o novo capitalismo livre das amarras do Welfare State é fácil. Difícil mesmo é entender que a realização do sonho americano veio do país do extremo oriente, para, a partir daí, fazer uma crítica radical ao modelo.

Ou é isso ou estaremos todos fadados, pela sobrevivência econômica, a imitar o modelo chinês. Ou é isso ou caminharemos pro suicídio.

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