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Morre Oscar Sala, presidente da FAPESP de 1985 a 1995
5/1/2010
Agência FAPESP – O físico Oscar Sala, diretor científico da FAPESP de 1969 a 1975 e presidente da Fundação de 1985 a 1995, morreu no sábado (2/1), em São Paulo, de parada cardíaca enquanto dormia. Foi cremado no dia seguinte. Tinha 87 anos.
A Missa de Sétimo Dia será realizada no sábado (9/1), às 12h, na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, R. Honório Líbero, 100, Jardim Paulistano, na capital paulista.
Professor emérito do Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP), foi presidente da Sociedade Brasileira de Física (1968-1971), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC (1973-1979), da Associação Interciência das Américas (1975-1979) e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (1985-1987). Era casado com Rosa Augusta Pompiglio, com quem teve três filhos: Luiz Roberto, Regina Maria e Thereza Cristina.
Como diretor científico e presidente da FAPESP, Sala foi fundamental na consolidação da instituição e na implantação de programas importantes como o Bioq-FAPESP, em 1970, o primeiro dos grandes projetos voltados ao desenvolvimento científico e tecnológico no Estado de São Paulo apoiados pela Fundação, e a Rede ANSP (Academic Network at São Paulo), que no fim da década de 1980 ajudou a ligar o Brasil à internet.
“Sala é um dos grandes nomes da ciência no país e um dos principais nomes associados à história da FAPESP, tendo sido inicialmente diretor científico em um período de consolidação da Fundação. Sua atuação foi decisiva nesse processo, nessa consolidação dos ideais da FAPESP, como, por exemplo, na implantação da sistemática de análise por pares, que possibilita a imparcialidade no processo de aprovação das propostas”, destacou Celso Lafer, presidente da FAPESP.
Sala nasceu em Milão, em 26 de março de 1922, e veio ao Brasil aos 2 anos. Em 1941 ingressou no curso de física da USP e deu início a trabalhos com Gleb Wataghin em pesquisas sobre raios cósmicos. No ano seguinte, os dois mediram pela primeira vez o coeficiente de absorção das radiações cósmicas geradoras dos chuveiros penetrantes de raios cósmicos.
Ainda estudante, participou do esforço de guerra em que se envolveu o Departamento de Física da USP, tendo construído transmissores portáteis para o Exército. Graduou-se em 1945, quando se tornou assistente da Cadeira de Física Geral e Experimental, dirigida por Marcello Damy.
Em 1946, com bolsa da Fundação Rockefeller, estagiou na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Em 1948, transferiu-se para a Universidade de Wisconsin para atuar no projeto do acelerador eletrostático encomendado pela USP, do tipo Van de Graaff, o primeiro a utilizar feixes pulsados para estudos sobre reações nucleares com nêutrons rápidos, importante para pesquisas na área de energia nuclear.
Posteriormente, desenvolveu novo tipo de voltímetro diferencial para altas tensões, usado para controlar a energia de Van de Graaff. “A construção e organização de laboratórios experimentais de pesquisas em física nuclear, desde o fim dos anos 1940 e começo da década de 1950, foi uma atividade constante de Sala”, destacou Amélia Império Hamburger, professora aposentada do IF-USP, que foi aluna de Sala.
Em 1962, conquistou a Cátedra de Física Nuclear e, em 1972, liderou a montagem do acelerador de partículas Pelletron. "O professor Oscar Sala foi um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento da física nuclear no país, tendo sido o grande responsável pela instalação e operação do Pelletron no IF-USP", disse José Fernando Perez, diretor presidente da Recepta Biopharma e diretor científico da FAPESP de 1993 a 2004.
Em seguida, Sala participou do Grupo Científico Internacional de Trabalho sobre Dados Nucleares, organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica em 1964, em Varsóvia, e em 1965, em Tóquio. Publicou grande número de artigos em revistas especializadas sobre raios cósmicos, física nuclear, instrumentação e física de aceleradores. Foi chefe do Departamento de Física Nuclear da USP nos períodos de 1970 a 1979 e de 1983 a 1987, tornando-se professor emérito em 1994.
Sala recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994), a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Bauru, cidade onde morou (1950), a Medalha Jubileu de Prata da SBPC (1973), a Medalha Jubileu do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (1981), a medalha Carneiro Felipe da Comissão Nacional de Energia Nuclear (1987) e o prêmio Moinho Santista de Física (1981), entre outras distinções.
“Pesquisador emérito, o professor Sala muito contribuiu para o desenvolvimento científico do Estado de São Paulo e do Brasil. Tive oportunidade de conviver e de trabalhar com ele como conselheiro e, depois, como diretor administrativo, num relacionamento sempre muito cordial e respeitoso”, disse Joaquim José de Camargo Engler, diretor administrativo da FAPESP.
Grandes programas
Em 1969, o Conselho Superior da FAPESP decidiu apoiar projetos de grande porte, aprovando o plano de Sala, que havia assumido a diretoria científica, de “destinar 30% do total da verba de amparo à pesquisa ao custeio de projetos através dos quais possam ser resolvidos ou bem equacionados importantes problemas de determinadas áreas”, segundo ata do conselho.
No ano seguinte, como resultado do Plano para Desenvolvimento da Bioquímica na Cidade de São Paulo, entra em operação o Bioq-FAPESP, com 14 projetos científicos e investimento inicial de US$ 1 milhão, previsto para três anos.
“O projeto era fiscalizado por uma comissão de pesquisadores estrangeiros, presidida por um ganhador do Prêmio Nobel de Química, Marshall William, dele participando grupos da Bioquímica da USP e da Escola Paulista de Medicina”, relata Shozo Motoyama, diretor do Centro Interunidade de História da Ciência da USP, em FAPESP – Uma História de Política Científica e Tecnológica (1999).
“O Bioq-FAPESP eliminou hierarquias, principalmente a científica: elaborava projetos quem queria e ganhava quem podia ou fazia um bom projeto. Uma grande quantidade de jovens montou os seus laboratórios de pesquisa, elaborando relatórios e publicando trabalhos. Todos os que participaram do programa foram bem-sucedidos”, relembrou Walter Colli, então diretor do Instituto de Química da USP.
Outra iniciativa importante da FAPESP na gestão de Sala como diretor científico foi na área de meteorologia. “Era uma área que estava em situação tecnológica precária no país. Além da possibilidade de dar, com rapidez, previsões do tempo que permitissem à agricultura se programar, também importava criar um grupo que reproduzisse, que formasse pessoal, usando técnicas avançadas”, disse Motoyama.
Com apoio da Fundação, foi instalado um radar no Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Fundação Educacional de Bauru, que posteriormente foi integrado à Universidade Estadual Paulista. Um resultado direto do projeto, denominado RadaSP I, foi que os jornais paulistas passaram a usar os dados obtidos nas previsões do tempo publicadas.
“O professor Sala teve enorme influência no bom desenvolvimento da FAPESP, como diretor científico e como presidente da Fundação. Presidiu a SBPC com ousadia e habilidade em um período difícil da vida brasileira, resistindo ao arbítrio e defendendo o desenvolvimento da ciência no Brasil. Mais ainda, o professor Sala foi um dos grandes cientistas brasileiros, aliando excelência científica e liderança institucional, e sendo um modelo de carreira para gerações mais jovens”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
Brasil na internet
A partir de 1985, Oscar Sala esteve à frente do processo de informatização da FAPESP, com o desenvolvimento de bancos de dados e sistemas de gerenciamento de bolsas e auxílios concedidos. Apoiou também as discussões que começavam a respeito da conexão do Brasil às redes acadêmicas internacionais, precursoras da atual internet.
A FAPESP consolidou sua participação na história da internet no Brasil com a criação da Rede ANSP (Academic Network at São Paulo), um programa que hoje é um dos principais pontos de conexão da internet do Brasil com o exterior e responsável pela interligação das redes acadêmicas universitárias, institutos e centros de pesquisa paulistas.
“Inicialmente, foram inscritas as três universidades paulistas, o IPT e a FAPESP. Ao mesmo tempo, foram estabelecidos os contatos com o Fermilab [Fermi National Accelerator Laboratory] dos Estados Unidos, para acesso à Bitnet, e com a Embratel e a Secretaria Especial de Informática”, relembra Motoyama.
“O professor Sala foi fundamental em todo o processo de conexão do Brasil à internet por meio da FAPESP. A própria parceria com o Fermilab, que viabilizou a ligação, só foi possível graças aos contatos do professor. Foi ele quem bancou todo o projeto, quem montou a equipe, quem apoiou tudo aquilo”, disse Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
Getschko estava no Centro de Computação Eletrônica (CCE) da USP quando foi convidado por Sala para assumir o Centro de Processamento de Dados da FAPESP, em 1986. “O professor Sala era absolutamente fora de série por sua capacidade, honestidade e integridade, além de seu inquestionável mérito científico. Tenho orgulho de poder ter sido seu amigo”, disse.
Da física à física
Como diretor científico da FAPESP e presidente da SBPC, nas décadas de 1960 e 1970 Sala teve participação de destaque no desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil durante o regime militar.
“Sua atuação institucional foi exemplar na defesa da comunidade científica tanto na FAPESP como na SBPC, liderando grupos que se mantiveram unidos em um momento difícil de nossa história. Institucionalmente, o professor Sala soube defender os pesquisadores, não permitindo que houvesse, por exemplo, ingerência na FAPESP por parte dos militares”, destacou Motoyama.
"O professor Sala foi um campeão na permanente afirmação da autonomia da FAPESP, que soube protegê-la com sabedoria e firmeza de ingerências políticas. Cumpre mencionar que seu principal aliado nessa luta foi o professor Alberto Carvalho da Silva, outro pilar na história da Fundação", ressaltou Perez.
Além da destacada atuação na política científica e tecnológica no país, Motoyama lembra que a maior paixão de Sala, de quem foi aluno no IF-USP, parecia ser mesmo a física, que nunca abandonou. “Era um aficionado pela física nuclear. Passava horas no laboratório, mesmo aos sábados e domingos. Foi um excelente professor, sempre muito atencioso com seus alunos. Firme, mas também simpático. Ele introduziu as grandes máquinas para acelerar partículas e formou uma geração que estabeleceu a física nuclear em São Paulo. Ele sempre gostou muito do que fez”, disse.
“Sempre vimos Sala trabalhar dez horas por dia no laboratório, acompanhando todos os detalhes de organização, administrando impecavelmente as oficinas, o almoxarifado, as compras, a secretaria, os estudantes, os professores visitantes. Sempre prestigiou o trabalho dos funcionários, administrativos e técnicos, que dão apoio à pesquisa tanto no laboratório como na secretaria, e essa é uma postura que garante a qualidade dos serviços e assegura o ambiente de equipe de trabalho”, disse Amélia Hamburger.
Leia mais sobre o professor Sala:
www.canalciencia.ibict.br/notaveis/txt.php?id=72
www.tidia.fapesp.br/portal/entrevistas/oscar-sala-um-fisico-de-alta-energia
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