Consignados e o servidor público
26-01-2010
José Airton Lucena – Coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará (MOVA-SE), Diretor de comunicação da CUT-CE.O governo decidiu sozinho estabelecer regras para controlar o dinheiro do servidor e o servidor está mais endividado agora do que estava antes.
A decisão de contratar uma empresa para controlar a margem para desconto em folha não resolveu o problema. Sessenta por cento, em média, dos trabalhadores do serviço público estão com a renda comprometida por empréstimos e começaram o ano preocupados.
No Bradesco, são 30 mil servidores com empréstimos. Mas há servidores com consignado também no BIC, Banco Rural e Oboé, dentre outros, que não sabem se seus empréstimos estão sendo pagos. A empresa contratada pelo Governo para controlar a margem a Administradora Brasileira de Cartões (ABC) não tem suporte técnico para atender a demanda de 140 mil servidores.
Diariamente presenciamos tumulto diante da empresa Único Cartão, terceirizada pela ABC Card que transferiu a ela a responsabilidade de administrar os empréstimos consignados. Muitas filas, falta de informação e reclamações é o que enfrenta quem tenta recebe valores já acordados, renovar empréstimos ou simplesmente entender as novas regras, que preveem margem de até 40%
Realidade bem diferente da prometida. Os funcionários da ABC que foram aos órgãos oferecer o cartão Único diziam que com ele o servidor poderia refinanciar todas as suas contas em 72 parcelas. O servidor acreditou que poderia refinanciar todas as suas dívidas. No entanto, só consegue renegociar empréstimo no Bradesco porque tem convênio com a ABC, ainda assim enfrentando a demora na liberação dos empréstimos.
Outro ponto: os prazos mais elásticos para o crédito consignado não são necessariamente benéficos para quem contrai empréstimo consignado. Isto porque o que poderia ser uma facilidade, implica também em juros mais altos, além do que isto significa que o trabalhador vai passar mais tempo com sua renda comprometida para poder quitar a dívida. Na verdade, essa ampliação do prazo significa um efeito devastador mais na frente sobre a renda do trabalhador, diluída no tempo pelos juros.
Discordamos de prazos maiores que 24 ou 36 meses. Quanto mais parcelas, maiores serão as taxas de juros praticadas. Taxas essas que já são bem elevadas diante do fato de os bancos não terem o menor prejuízo com este tipo de empréstimo, já que os descontos das parcelas são feitos diretamente na folha. Ainda assim, continuam a cobrar juros absurdos para uma operação que não traz o menor risco para elas. Com isso, instituições financeiras e governo demonstram não ter a menor preocupação com o trabalhador.
Além disso, não se pode esquecer que o trabalhador tem outras despesas correntes com alimentação, medicamentos entre outros gastos, que podem ficar inviabilizados pelo comprometimento da renda futura por um período tão extenso.
José Airton Lucena – Coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará (MOVA-SE), Diretor de comunicação da CUT-CE.
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