domingo, 31 de maio de 2009

L I T E R A T U R A - E N T R E V I S T A.

LiteraturaEscrita como exercício de liberdadeO escritor gaúcho Moacyr Scliar participou ontem da terceira edição do programa O Povo Quer Saber. Médico de formação, ele revelou que o acaso da escrita foi redentor para sua vida. Bem humorado, o autor falou de suas origens e de seu cotidiano criativoAlan Santiago Especial para O POVO
Moacyr Scliar: Literatura como fator humanizador da Medicina (Foto: Talita Rocha)
[30
document.write (matriz[4]);
Maio 01h18min 2009]Moacyr Scliar, 72, é mais conhecido por seu ofício como escritor do que por seu trabalho como médico. Tem mais de 70 livros publicados, ganhou prêmios importantes como o Jabuti e o internacional Casa de Las Américas, mas ontem pela amanhã, foi o protagonista da terceira edição do programa O Povo Quer Saber, transmitido pela rádio CBN/O POVO e pelo portal O POVO On line, para falar, entre outras coisas, da saúde pública no Brasil. A entrevista foi conduzida pelo editor institucional do Grupo de Comunicação O POVO, Plínio Bortolotti, junto com os também jornalistas Miguel Macedo, Henrique Araújo, Ricardo Moura e a escritora e pesquisadora Tércia Montenegro. Autor de livros como O Ciclo das Águas (1975) e O Centauro no Jardim (1980), Scliar se tornou médico, curiosamente, porque tinha medo de doenças. “Não que eu seja hipocondríaco, mas me tornei médico pra cuidar dos meus pais, dos meus amigos, porque eu não podia ver pessoas doentes. No vestibular, não vacilei: fui para Medicina”. Começou tratando tuberculose. Viu que aquilo lhe completava, mas não era suficiente, “alguma coisa precisava ser feita na população. por isso fui para a saúde pública”. Os anos dedicados à prática clínica e à saúde pública foram, para ele, um mergulho na intimidade do Brasil. “Não acho que a saúde brasileira seja um caos. A gente tem a impressão por essas coisas que vemos como lotação de hospitais ou carência de tratamentos, mas muita coisa básica está sendo bem atendida”. Segundo ele, o Brasil tem programas que são exemplares como os de combate a AIDS e à tuberculose. “Quando eu trabalhava com isso no Rio Grande do Sul (seu estado de origem), médicos europeus vinham estagiar conosco para aprender como conduzir um programa de saúde”. Sua crítica está mesmo voltada à preparação dos médicos. “Durante muito tempo, em várias faculdades de Medicina, o ensino não estava vinculado à realidade. Eu estudei Medicina, meu curso foi bom, mas quando eu caí na realidade foi um choque. Nunca ninguém tinha me dito que aquela era realidade, quando comecei a trabalhar nas vilas populares de Porto Alegre. E as Vilas Populares estão longe de ser miseráveis”. A literatura foi sua redenção. Aprendeu a lidar melhor com as pessoas através da sensibilidade encontrada nos textos de ficção do que nos compêndios médicos. “Os pacientes se queixam de que não têm com quem falar; os médicos, por sua vez, alegam que não têm tempo, que os exames falam por si, mas não é bem assim”. Para humanizar a relação médico-paciente, a Literatura é uma solução. Scliar nunca pensou que fosse se tornar escritor. Muito menos que seria, um dia, membro da Academia Brasileira de Letras. Escrevia, porque gostava. Mais do que gostar de escrever, adorava também ouvir e ler histórias. “Meus pais favoreciam essa aproximação com a Literatura. Meu pai era um grande contador de histórias, e minha mãe era professora, lia muito. Meu nome é Moacyr por causa do personagem de José de Alencar”. Na infância, morava no bairro Bonfim, em Porto Alegre, um lugar de imigrantes - como eram seus pais, vindos da Rússia. Foi nesse ambiente eminentemente judeu dos primeiros anos de vida que extraiu a inspiração para muitos de seus textos. “Se a gente pega as culturas da Antiguidade, a gente vê que os gregos deixaram obras de arte; os egípcios, as pirâmides; os romanos, as construções gigantescas; mas os judeus não deixaram nada do ponto de vista material. Mas deixaram um livro (a Bíblia) que condiciona as várias culturas do mundo. Pelo menos, as culturas judaica, cristã e islâmica - descendentes de Abraão”, considera o autor. Hoje distante dos consultórios, Scliar leva a seu fazer literário a rotina dos tempos médicos. Escreve em qualquer lugar e horário. Mais do que isso: ele traz, desse tempo, a relação próxima com a morte. “A vivência com a doença, sofrimento, morte, é para o escritor extremamente revelador. Quando se está doente, as máscaras caem e o sujeito se revela do jeito que é. A doença é o momento da verdade”, diz. EMAIS - Moacyr Scliar elogiou a cronista do O POVO Ana Miranda. Para ele, a cearense é responsável por inaugurar a atual onda de biografias, bastante popular no mercado editorial brasileiro. - A um dos ouvintes, Scliar aconselhou: “Não diga aos filhos que eles têm que ler. O que os pais podem fazer é transformar o convite à leitura num elo emocional com os filhos. Pai que leva filhos à livraria está formando leitores”. - Nas fichas dos hotéis, ele se furta a escrever escritor como profissão. “Das poucas vezes que botei escritor, o funcionário do hotel ficou me olhando torto. ‘Será que o cara vai pagar a conta ou vai fugir com o frigobar à noite?’”, brinca. ENTREVISTADORES - Plínio Bortolotti. Editor institucional do Grupo de Comunicação O POVO - Henrique Araújo. Estagiário do Núcleo de Cultura e Entretenimento do O POVO - Tércia Montenegro. Escritora - Miguel Macedo. Jornalista da Fundação Konrad Adenauer - Ricardo Moura. Jornalista

Nenhum comentário: