Água e desenvolvimento
PAULO RODRIGUES VIEIRA, DIRETOR DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA)
As comemorações do Dia Mundial da Água, hoje, ensejam, a cada ano, oportunidade de se
refletir sobre esse recurso essencial para a vida e o desenvolvimento.
Embora o Brasil tenha uma situação privilegiada no cenário mundial, contando com cerca de
12% das reservas globais de água doce, sua distribuição não é homogênea no território,
apresentando enorme variação espacial e temporal, o que exige diferentes abordagens para o
seu aproveitamento.
Do ponto de vista da geração de energia elétrica de origem hidráulica, o país se destaca pelo
alto percentual da modalidade em sua matriz energética, valendo- se da extensa rede de
transmissão que se estende por todo o país, que interliga os diferentes empreendimentos
hidrelétricos e permite a operação integrada dos reservatórios existentes, num processo de
alta complexidade e de grande eficiência, possibilitando ganhos significativos decorrentes do
aproveitamento das diferenças sazonais e geográficas.
Por outro lado, questões relativas ao abastecimento, principalmente das grandes cidades, têm
exigido, por vezes, transposições de água entre bacias hidrográficas, no sentido de
disponibilizar água nos locais, nas quantidades e nos momentos requeridos por essas
atividades. A rigor, é mais difícil e oneroso transportar água do que energia. No entanto, não
menos necessário. Podem ser elencados o sistema de transposição do rio Paraíba do Sul para o
Sistema Guandu, responsável por cerca de 90% do abastecimento da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro e o sistema de transposição da Região Hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari
e Jundiaí, conhecido como Sistema Cantareira, que responde por cerca de 50% do
abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.
O que é comum nos exemplos citados, tanto de energia como de abastecimento de água, é
que não há uma percepção clara do consumidor de onde provêm esses recursos e como são
equacionados os sistemas que os fazem chegar até o usuário final. Isso ocorre tanto no caso da
energia elétrica - em todo o país - como no caso do abastecimento de água nas regiões
metropolitanas, fazendo com que as intrincadas operações desses sistemas se constituam em
bastidores silenciosos do desenvolvimento.
A compreensão desse quadro parece fundamental para que se temperem as grandes
polêmicas que têm se instalado em torno dos empreendimentos de geração de energia
elétrica que vêm sendo concebidos na Amazônia, a exemplo das hidrelétricas do rio Madeira e
do rio Xingu, e mesmo aqueles referentes à transposição das águas do rio São Francisco para o
semiárido nordestino.
Nesse sentido, a consideração dos grandes empreendimentos atualmente em operação e que
hoje trazem enormes benefícios a milhões de brasileiros poderia oferecer um novo olhar para
os projetos e as obras hoje tão criticadas.
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