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quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Os desafios de sermos 7 bilhões
O GLOBO | CIÊNCIA
IBAMA | GERAL - MEIO AMBIENTE
Os desafios de sermos 7 bilhões
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Os desafios de sermos 7 bilhões
Relatório da ONU mostra dificuldades de se alimentar todos sem destruir planeta
Editoria de Arte
Renato Grandelle renato.grandelle@oglobo.com.br Thiago Herdy* ciencia@oglobo.com.br
BELO HORIZONTE e RIO
As populações mais pobres do planeta sentirão os efeitos mais devastadores das Mudanças Climáticas e do consumo de países ricos em um mundo com 7 bilhões de habitantes, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que projetou para a próxima segunda-feira a data em que o planeta alcançará este número de pessoas. O alerta foi dado ontem, durante o lançamento do Relatório da Situação da População Mundial 2011, documento em que a entidade conclama a comunidade internacional a brigar pela redução do consumo excessivo e das Emissões de gases de Efeito Estufa. Tudo para que o equilíbrio da natureza que sustenta a vida seja mantido e as necessidades de tantos sejam atendidas.
- Não temos estudos científicos com a última palavra da capacidade de consumo do planeta, mas é certo que, se toda a população da Terra seguisse os hábitos observados nos países desenvolvidos, não estaríamos mais aqui. Seriam necessários cinco planetas para dar conta da demanda - alertou o representante do Fundo no Brasil, Harold Robinson, em evento realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), parceira da ONU em estudos demográficos.
O relatório ressalta que as pessoas mais ricas do mundo (7% da população mundial) são responsáveis por metade das Emissões de CO2, gás que contribui fortemente para a mudança climática mundial. A metade mais pobre gera apenas 7% dessas Emissões.
Alerta semelhante é dado em relação ao consumo de água, que cresce duas vezes mais rápido que a população mundial. De acordo com as projeções, nos próximos 20 anos a necessidade de água doce será 40% maior do que a atual. E isso em um mundo onde 884 milhões de indivíduos ainda não têm acesso a água potável. Cerca de 17 mil espécies de animais ou plantas estão sob ameaça de extinção devido à perda do habitat, espécies invasivas, altas taxas de consumo, Poluição e mudança climática.
Para os pesquisadores da entidade, embora a taxa de crescimento pareça estar em desaceleração - em função do declínio da fecundidade na maior parte do mundo -, o grande número de pessoas em idade reprodutiva (3,7 bilhões) faz crer que a população crescerá por muitas décadas. A população deverá chegar a 8 bilhões em 2025 e, ainda este século, 10 bilhões.
Autor de "Peoplequake", livro em que analisa as migrações globais e o aumento da população, o inglês Fred Pearce sustentou ao GLOBO que o mundo já produz alimentos suficientes para este contingente:
- O problema é que boa parte é direcionada à pecuária, cujo retorno não é eficiente, e a biocombustíveis. O que mais me preocupa não é a "bomba populacional", mas a "bomba de consumo". Precisamos de novos métodos de irrigação, culturas agrícolas que demandem menos água. O Brasil já está acordando para a economia sustentável e terá seus recursos cada vez mais valorizados mundialmente.
O país também foi bem avaliado por Robinson. Segundo ele, o Brasil segue o modelo apontado pelos pesquisadores da ONU.
- Quando a taxa de crescimento da população é baixa e o crescimento econômico é alto, o país melhora - analisou. - O Brasil é um exemplo de como reduzir o crescimento da população com a redução da desigualdade.
Segundo o documento, a proporção de pessoas que passam fome tem caído desde 1990. Mas, devido ao crescimento populacional, o número absoluto de famintos aumentou de 815 milhões para 925 milhões. As Mudanças Climáticas podem neutralizar os esforços antipobreza de muitas formas, especialmente quando se devasta as safras com secas, enchentes e tempestades.
Quase todo o crescimento da população mundial - 97 de cada 100 pessoas - ocorre em países menos desenvolvidos, alguns dos quais já lutam para atender às necessidades de seus povos. Para a ONU, grande parte da população continua vulnerável à insegurança alimentar, à falta de água e aos desastres climáticos.
- Já se fala em controle populacional há 200 anos e, desde lá, a qualidade de vida só melhorou - lembrou Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Núcleo de Estudos de População da Unicamp. - O homem sempre criou novas oportunidades para seu desenvolvimento. Mas, se não nascesse ninguém a partir de amanhã, haveria alguma mudança na estrutura produtiva e de consumo? Este deveria ser o foco da discussão.
Ainda segundo a ONU, além de proteger o Meio Ambiente, é preciso promover a saúde e a produtividade de idosos para diminuir o desafio das sociedades em desenvolvimento. E, também, planejar as cidades, que concentrarão os próximos 2 bilhões de habitantes do planeta.
(*) Especial para O GLOBO
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