Cientistas debatem o que o Brasil poderia fazer se fosse assolado por epidemia mortal
28/10/2011 - 15h57
Pesquisa e Inovação Saúde
Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Um vírus letal que se espalha rapidamente por todo o planeta, causando pânico e caos entre a população. O tema do filme Contágio, em cartaz nos cinemas brasileiros, foi debatido hoje (28) por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio. A iniciativa do debate foi da Foundation for Vaccine Research, uma fundação dos Estados Unidos.
De acordo com o superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio, Marcio Garcia,o Brasil tem experiência e conhecimento em vigilância e investigação, que faz do país capaz de dar resposta razoável contra um vírus letal.
“Temos uma rede nacional de alerta e resposta que, inclusive, é conectada com a sala dos CDC Centers for Disease Control and Prevention [Centros de Controle de Enfermidades dos Estados Unidos], que aparece no filme, em uma rede internacional. Também temos um programa especializado em investigação de surtos, que é o Epsus, com mais de 100 pesquisadores formados,” disse ele.
A infectologista Patrícia Brasil, da Fiocruz, discorda da análise. Ela disse que um país que não consegue conter o avanço de doenças já conhecidas e que podem ser combatidas, como a tuberculose e a dengue, e sequer tem condições de responder a um vírus como o do filme.
“Na verdade, ninguém está preparado para um vírus como esse [do filme Contágio]. E nós temos nossos próprios pesadelos, como a tuberculose. Na epidemia de dengue de 2008, foram mais de 300 mil casos, mais de 40% de mortes de crianças. Temos a reintrodução da malária. São muitos os desafios de saúde pública ainda. Nosso sistema de saúde já é caótico, não só o público, com emergências lotadas. Imagine com uma epidemia de vírus letal?”, pergunta a pesquisadora.
O pesquisador Mauro Schechter, da UFRJ e membro da entidade que promoveu o debate, lamentou que se invista tão pouco em pesquisa de novas vacinas. Ele defendeu o financiamento de organismos multilaterais em estudos nessa área “Vacina não dá dinheiro. A não ser que seja para algumas patologias, como HPV, cuja vacina é muito cara. Mas criar uma vacina para tuberculose ou malária não é rentável, por exemplo. O Estado tem outros problemas para resolver, como garantir saúde, educação, segurança e transporte para a população. Por isso, há a necessidade de esforços internacionais conjuntos”.
De acordo com Schechter, especialista em HIV, para desenvolver uma vacina contra a aids em dez anos seriam necessários investimentos adicionais de U$ 5 milhões a U$ 10 milhões por ano sobre o que já se investe hoje em pesquisa. “O que é feito hoje é insuficiente”, lamentou o pesquisador.
Edição: Vinicius Doria
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