domingo, 8 de fevereiro de 2009

Oportunidade em matas protegidas

Oportunidade em matas protegidas GLOBO REPORTER
Imagine trabalhar num lugar como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Sob o céu do Cerrado, trilhas e flores mostram o caminho para garantir um emprego. Quem nasceu na chapada depende do turismo para ganhar a vida.
"Tudo começou quando o primeiro casal de turistas veio à chapada e pediu uma comida caseira. Foi a primeira vez que eu matei uma galinha para fazer comida caseira. Eu não tinha restaurante, não tinha prato para servir, nada. Mas fiz sucesso", lembra Dona Nenzinha, proprietária de um restaurante.
Junto com os primeiros turistas, vieram também oportunidades de emprego para os moradores da região. Dona Nenzinha logo conquistou a freguesia. "O pessoal chegava aqui, eu corria e matava a galinha. Não tinha energia, não tinha geladeira. Matava a galinha correndo e fazia arroz, feijão, abobrinha, uma verdura do quintal mesmo. Pegava tudo da horta e fazia o almoço. O pessoal chegava, sentava no chão, na calçada. Eu não perdia a oportunidade", lembra.
O negócio de fundo de quintal cresceu e virou um restaurante. Hoje, dona Nenzinha emprega oito pessoas.
"Antes, as pessoas não tinham como sobreviver aqui. Hoje, falta funcionário. No domingo, na segunda, não tem ninguém para dar uma faxina. Aqui, só não ganha dinheiro quem não quer", garante Dona Nenzinha.
Os vales e serras protegidos no parque guardam um verdadeiro tesouro da natureza.
"Antes, meus meninos garimpavam de manhã para jantarmos à tarde. E garimpavam à tarde para poderemos almoçar no dia seguinte. O garimpo não dava para nada! Eu não virei empresária, mas, graças a Deus, hoje eu tenho como sobreviver. Todos os meus filhos estudaram. Graças a Deus, estão todos bem", comemora Dona Nenzinha.
Até pouco tempo, a maioria dos moradores tirava o sustento do que está debaixo da terra: cristais de quartzo, que formam o subsolo de boa parte da Chapada dos Veadeiros. Mas a extração foi proibida. Hoje, eles são encontrados em pequenas quantidades. O suficiente apenas para o artesanato.
"Hoje nós zelamos pela natureza, não temos coragem de destruir mais nada. É ela que garante o ganha pão, com certeza", ressalta Dona Nenzinha.
Quem não se encanta por um lugar como a Chapada dos Veadeiros? As belezas naturais atraem os turistas, e o cuidado com o meio ambiente está fazendo crescer o número de vagas de trabalho. No parque nacional e em algumas propriedades particulares, os visitantes só podem entrar acompanhados por um guia.
Mais de cem guias trabalham no parque. A concorrência é grande! Manuel Pacheco, o Pachecão, é um dos melhores.
"A gente acorda cedo. Tem que se arrumar, se alimentar bem e estar decidido a sair e voltar só à noite, porque a gente fica o dia inteiro com os turistas", diz Pachecão.
Pé na estrada e turistas atentos.
"Não é perigoso, mas tem um precipício aqui", alerta Pachecão durante um passeio no limite da chapada.
Pachecão chegou a cursar engenharia civil em São Paulo, foi professor de matemática, mas escolheu ser guia de turismo na Chapada dos Veadeiros.
"É aquela coisa: quem se esforça mais, quem se dedica mais, quem gosta mais do que faz é que tem mais chance de crescer no mercado. Eu vivo bem. Foi uma escolha minha. Podia estar melhor como engenheiro, acomodado em São Paulo. Mas eu gosto muito da minha profissão e quero, se possível, morrer nela. Sou feliz com isso", garante Pachecão.
A guia de turismo Lusimar Mariano de Souza também. Ela cresceu à sombra de um jatobá. A casa simples e o fogão à lenha são lembranças dos tempos de criança. "Tudo isso era Cerrado. Eu peguei caju onde hoje é a pracinha", lembra Lusimar. "Na minha época, criança não tinha só que brincar – tinha que trabalhar também. Eu tive uma pequena passagem pelo garimpo. Eu ia com minha avó até Água Fria, que hoje virou um atrativo. Lá, ela ficava acampada, e nós garimpávamos. Eu defendi meu estudo através do garimpo. Comprava um caderninho pequeninho e estudava com o que eu conseguia realmente fazer no garimpo", conta.
Daquele pequeno caderno para dezenas de certificados e diplomas foi preciso muita dedicação.
"São mais de mil horas de cursos, treinamentos, tudo no papel. Foram vários cursos de busca e resgate, primeiros-socorros, atendimento ao público, atendimento fora da trilha também. Tudo que eu fiz está nos certificados", diz Lusimar.
E que orgulho! O trabalho que desenvolveram na Chapada dos Veadeiros serve como exemplo para outros parques nacionais.
"É uma oportunidade para quem é da região. Vejo um futuro brilhante, sem a menor dúvida", constata Lusimar.

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