domingo, 29 de abril de 2012

AMAR

Amar Carlos DRUMONT



Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?

Amar e esquecer?

Amar e malamar

Amar, desamar e amar

Sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

Sozinho, em rotação universal,

se não rodar também, e amar?

Amar o que o mar trás a praia,

O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amor inóspito, o áspero

Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,

e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este é o nosso destino:

amor sem conta, distribuído pelas coisas

pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor

Amar a nossa mesma falta de amor,

e na secura nossa, amar a água implícita,

e o beijo tácito e a sede infinita.







As sem-razões do amor



Eu te amo porque te amo.

Não precepisas ser amante,

e nem sempre sabe sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça e com amor não se paga.

Amor é dado de graça, é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.

Eu te amo porque te amo bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor.




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