sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Peixe-boi


Karina Ninni

A seca no Amazonas está fazendo outras vítimas além dos moradores da região: a população local de peixes-bois. Na última semana, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) apreendeu dez quilos de carne de Peixe-boi, além de um filhote já morto, de pouco mais de um ano. A apreensão foi feita durante operação de fiscalização realizada nas comunidades Jacu, Taperebatuba e Igarapé-Açu, localizadas no município de Silves, a 203 quilômetros de Manaus. Também foram encontrados 133 ovos de tartaruga e diversos apetrechos proibidos de pesca e caça.

A fiscalização foi solicitada após denúncias formalizadas por moradores que atuam como agentes ambientais voluntários da Associação de Silves para a Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC). Com a drástica seca dos rios do estado do Amazonas, os Peixes-bois tornaram-se vítimas fáceis para a captura e comércio ilegais.

"Quando os rios sobem, transbordam de suas calhas e formam lagoas ao redor. Como são locais com fácil disponibilidade de alimento, os animais vão para esses lagos. Aí, vem a vazante e eles ficam presos. Com a seca, a situação é pior, porque os rios também estão com pouca água. A seca deixa os animais sem ter para onde ir", resume Robson Czaban, analista ambiental do núcleo de fauna silvestre do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).


"Estávamos achando tudo muito calmo porque, desde que a seca começou - e á uma seca recorde - não havíamos recebido chamados de denúncias. Até que, no domingo passado, recebemos uma ligação do município de Autazes, com o alerta de que havia muitos peixes-bois presos no lago do Periquitão, que fica a cerca de duas horas de lancha da sede do município", explica o veterinário Anselmo da Fonseca, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Depois da denúncia de Autazes, amplamente divulgada pelos meios de comunicação locais, apareceram outras, incluindo a de Silves.

"Recebemos chamados de Silves, Tefé, Manacapuru e Coari", diz Fonseca, do Inpa. "Em Tefé há relatos de matança de peixes-bois bem em frente à cidade, em um lago que existe ali. Em Coari, nossos informantes relataram que durante a madrugada os animais são capturados e levados a uma ilha próxima, chamada ilha do Ariá, e lá são mortos."

Fonseca afirma que em Silves há informações de que a carne de Peixe-boi está sendo vendia a um valor que varia entre R$ 3,00 e R$ 5,00 o quilo ­- o que significa grande disponibilidade do produto. Ele alerta: "Tivemos uma grande seca em 2005, e outra agora, em 2010. Se esses intervalos continuarem assim, a espécie corre sério risco". O Peixe-boi já está na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) como espécie ameaçada de extinção.

De acordo com Czaban, o número de denúncias aumentou muito nos últimos anos, mas número de animais que dão entrada no órgão ambiental diminuiu. "Não sabemos se é algo para comemorar ou para lamentar. Queremos crer que o aumento de denúncias significa uma população mais consciente, e não o aumento da caça ilegal. Tanto que, este ano, recebemos cerca de 400 animais no Ibama ­­­­­­- a metade do que recebemos no ano passado."



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