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domingo, 13 de março de 2011
Sem novidades no front
Sem novidades no front
Por Alberto Dines em 8/3/2011
No Levante tudo é possível: miragens podem transformar-se em realidades – como aconteceu na Tunísia e Egito – ou em auto-enganos – caso da Líbia.
A mídia internacional embarcou coletivamente num wishful thinking, imaginou que o déspota Muamar Kadafi deveria estatelar-se em 18 dias como aconteceu com Hosni Mubarak. Já se passaram 24 e a revolta, longe de chegar a Trípoli, transforma-se numa sangrenta guerra civil que praticamente dividiu o país.
A mídia cobre guerras tocada por um charme pseudo-romântico que ainda envolve as matanças autorizadas. No caso iludiu-se com a sua própria cobertura. E não por má-fé, mas porque sempre se encantou com cruzadas idealistas. Imaginou que aquela rapaziada que jamais pegou num fuzil seria capaz de enfrentar os matadores profissionais da família Gadafi.
As inéditas unanimidades contra o ditador líbio alcançadas no Conselho de Segurança e no plenário da Assembléia da ONU legitimaram as avaliações fantasiosas sopradas pelos rebeldes a respeito dos seus êxitos militares.
A ancestral divisão do país em Tripolitânia e Cirenaica nunca deixou de existir, razão pela qual os sucessos iniciais dos insurgentes levaram os desavisados a acreditar que se repetiriam no resto do país, sobretudo a oeste, onde está Trípoli. Não se repetiram.
Sem heroísmo
A Líbia não é um Estado como o Egito ou mesmo a Tunísia. Apesar do alto IDH é administrada de forma paternalista, como tribo. Não tem instituições sólidas, nunca teve. Não dispõe de uma elite militar porque há mais de quatro décadas só teve um comandante das forças armadas – Kadafi. Os próprios italianos, primeiros colonizadores modernos, só conseguiram se organizar num Estado em 1861, para 150 anos depois produzir uma aberração chamada Silvio Berlusconi.
Neste cenário fragmentado, impreciso, torna-se ainda mais difícil acompanhar uma guerra de guerrilhas, sem frentes definidas, volátil, movediça. Mais fácil foi cobrir a dramática fuga dos mais de 100 mil estrangeiros quando deixaram o país.
A campanha bélica está sendo reportada de forma dispersiva, aleatória, porque os rebeldes ainda não conseguiram aquele mínimo de organização para abastecer a legião de jornalistas que acorreram de todas as partes do mundo e precisam satisfazer o público sedento de façanhas militares.
A munição mais usada são as informações e contra-informações. Neste quesito o clã Kadafi leva alguma vantagem, embora perca de goleada no front político. Mas não há charme nem romantismo em cobrir a ONU ou a União Européia, para isto bastam os correspondentes e agências.
A sangrenta repressão adotada pelo ditador está prejudicando as demais sublevações no Oriente Médio – inspiradas e reforçadas pelos sucessos na Tunísia e Egito. Sem poder espelhar-se em novos triunfos, arrefece a cruzada libertária no Bahrein, Iêmen, Arábia Saudita e Irã. Kadafi, o caudilho "progressista", ainda vai se converter em modelo do que há de mais reacionário na região.
Sem heroísmos para cantar, sem espaço (nem tempo) para analisar as implicações do que está ocorrendo e silenciada pela batucada carnavalesca, nossa mídia desperdiça diariamente preciosas oportunidades para converter o seu público em testemunha da história.
Modo de dizer
Mencionam-se os mercenários do Chade pagos com petrodólares e não lembram que não muito longe dali operava a celebrada Legião Estrangeira a serviço da França e integrada exclusivamente por mercenários.
Os filólogos das redações andaram divertindo-se com as inúmeras variações na forma de registrar o nome Kadafi, poucos se dão conta que não temos normas para grafar e/ou pronunciar os nomes estrangeiros que entram de cambulhada no noticiário.
Aquele "h" na palavra Tahrir (do árabe, "libertação", nome da maior praça do Cairo, base do movimento que derrubou Mubarak) não é mudo, deve ser pronunciado com um som gutural que não existe em português, inglês, alemão ou francês, mas existe em russo, hebraico e espanhol (o "j"). Curiosamente, os jornais espanhóis não designam o logradouro cairota de Tajrir: mantém o "h" sem saber o que fazer com ele.
O mesmo acontece com o minúsculo Bahrein. Nossos locutores evitam o som rascante do "h" (para não arranhar as preciosas gargantas) e com isso induzem os redatores a escrever com erros. Principalmente na internet.
Quando não há novidades no front, melhor lembrar os mortos.
Localização: Norte da África
Capital: Tripoli
Idioma: Árabe (oficial)
Religião: Islamismo (96,4%), outras 3,4%, sem religião 0,2%.
Restrições: Nenhuma forma de testemunho cristão para os cidadãos líbios é permitida.
A Líbia é conhecida como um estado laico, ou seja, que não sofre influência ou controle por parte da igreja, mas suas lideranças prestam grande apoio ao islamismo. O governo exige respeito às normas e tradições muçulmanas e a submissão de todas as leis à sharia (lei islâmica). Assim, nenhuma forma de evangelismo aberto é possível, sendo que o último posto missionário avançado foi fechado na década de 60. Existe uma crescente liberdade dos estrangeiros, mas os líbios estão fora dos limites do evangelismo. Para os obreiros estrangeiros, insatisfeitos com essa dura forma de contenção do cristianismo, a tentativa de evangelismo aberto pode ser extremamente perigosa, devido às redes da polícia secreta.
Atualmente, a Líbia tem o primeiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente africano, e um dia antes de ter sido eleita para integrar o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) – apesar de ter deixado muitas organizações desapontadas com a integração – o país passou por uma terrível tragédia. No dia 12, um avião que saiu de Johannesburgo, na África do Sul, se chocou no chão ao tentar pousar no aeroporto de Tripoli, capital do país. O destino dos 104 passageiros e tripulantes, sendo maioria ingleses e holandeses, era o aeroporto de Gatwick, em Londres, mas apenas um menino holandês de 9 anos sobreviveu milagrosamente ao acidente. O Airbus se despedaçou na queda e destroços se espalharam por uma grande área, mas, graças ao favor e misericórdia de Deus, o menino Ruben Van Assouw fez uma cirurgia de reparação dos ossos das pernas que foram quebradas. Ruben continua hospitalizado, mas seu estado de saúde é estável.
Oremos, pois, pela Líbia:
- Para que Ruben Van Assouw se recupere após esse processo tão traumático; pelos familiares das vítimas do acidente, para que sejam confortados nesse momento tão sofrido; pela abertura religiosa, para que o evangelho de Cristo possa ser anunciado e proclamado no país, e que muitas vidas sejam salvas; pelos estrangeiros que pregam o evangelho mesmo sob tantas dificuldades e riscos de vida; para que a censura e opressão acabem; e, também, para que muitos missionários sejam levantados para levar a Palavra e o amor de Deus ao povo líbio.
FONTE: LAGOINHA.COM
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