segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Em busca da nova mineração

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Em busca da nova mineração
28/12/2009

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A FAPESP e a Vale S.A. assinaram, na última quarta-feira (23/12), um acordo de cooperação para apoiar a pesquisa científica, tecnológica ou de inovação em áreas como mineração, energia, biodiversidade e produtos ferrosos para siderurgia.

A cerimônia de assinatura do acordo ocorreu na sede da FAPESP, em São Paulo, com a participação do vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, do presidente da Vale, Roger Agnelli, do diretor do Instituto Tecnológico Vale (ITV), Luiz Eugênio Mello, do presidente da FAPESP, Celso Lafer, do diretor científico da Fundação, Carlos Henrique de Brito Cruz, e do deputado federal Arnaldo Jardim.

O acordo prevê investimentos de até R$ 40 milhões, metade de cada instituição. As áreas de pesquisa contempladas vão desde o campo da mineração –, atividade fundamental da empresa –, até áreas como ecoeficiência, biodiversidade, geotecnia, busca de novas rotas de biocombustíveis e melhoria da eficiência energética.

Segundo o presidente da Vale, o acordo com a FAPESP – feito nos moldes de parcerias semelhantes assinadas recentemente com as fundações estaduais de amparo à pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e do Pará (Fapespa) –, insere-se na nova estratégia de pesquisa e desenvolvimento da empresa, que tem como eixo central a criação do ITV.

“As atividades do ITV já estão em curso e temos vários projetos em andamento. A ideia, com essas parcerias, é acelerar esses projetos o máximo que pudermos. O que queremos com o acordo assinado hoje é aproveitar a expertise dos cientistas de São Paulo para dar mais velocidade e um pouco mais de objetividade em alguns processos e rotas de produção interessantes para a empresa”, disse Agnelli à Agência FAPESP.

A Vale é a maior empresa privada do país e a segunda maior mineradora do mundo. Segundo Agnelli, o objetivo estratégico por trás dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento – que chegaram a US$ 1,13 bilhão em 2008 – é transformar a empresa, nos próximos anos, na maior e melhor mineradora do mundo.

“Mas ser a melhor mineradora não significa apenas dominar processos de produção. Nesse aspecto, a Vale já está na linha de frente mundialmente. Ser a melhor mineradora significa ser capaz de fazer uma mineração que se adapte às reais condições do planeta, que a sociedade está exigindo. Para isso temos que desenvolver novas tecnologias para acompanhar as mudanças do mundo, repensando processos produtivos e cuidando do meio ambiente”, afirmou Agnelli.

A área de energia, nesse contexto, é uma prioridade, já que a empresa é responsável por 4,5% de toda a energia consumida no país. Segundo Agnelli, considerando os novos projetos de expansão, a empresa deverá ainda dobrar seu consumo de energia em um futuro próximo.

“Por isso criamos, em 2008, a Vale Soluções em Energia e o ITV, que reúne todos os nossos centros de pesquisa. Precisamos da pesquisa científica e tecnológica para limpar a matriz energética da empresa e reduzir o consumo, além de criar novos processos. Queremos uma nova mineração”, afirmou.

Para o presidente da FAPESP, Celso Lafer, uma das virtudes do convênio é que ele estimula um trabalho em rede com outras fundações de amparo à pesquisa.

“Isso é muito importante. Além da busca pela internacionalização, a FAPESP quer aumentar a interação entre pesquisadores de São Paulo e de outros Estados. Tenho certeza de que o acordo trará contribuições importantes para o conhecimento. E a Vale sabe que, sem o conhecimento, não há possibilidade de competitividade”, destacou.

“Na mudança da Constituição Paulista, a participação da FAPESP passou de 0,5% para 1% porque ela ganhou responsabilidade na área de desenvolvimento tecnológico. E é por isso que também temos procurado trabalhar parcerias e interações com o setor privado. Por isso, temos feito uma série de parcerias com empresas privadas, voltadas para ampliar o volume de recursos destinados ao apoio à pesquisa”, disse.

Segundo Luiz Eugênio Mello, a Vale descentralizou suas atividades de pesquisa, no início da década de 1990, em várias unidades no Brasil e no exterior. Mas há cerca de três anos a empresa percebeu a necessidade de uma nova centralização, capaz de criar uma sinergia entre as diversas unidades.

“O ITV avança, sobretudo a partir deste ano, para se constituir também como uma interface com o setor acadêmico. Por maior que seja a área de pesquisa em uma empresa, ela jamais será tão grande como a competência instalada fora dela. A Vale até agora não buscava interação com as agências de fomento como a FAPESP. Agora trouxemos para dentro da empresa essa perspectiva acadêmica”, disse.

Mello lembrou que o Brasil é um dos únicos países com grandes economias no qual o setor público ainda investe mais em ciência e tecnologia do que o setor privado. “Essa iniciativa da Vale busca modificar esse panorama. E uma empresa desse porte espera, com isso, servir de modelo para outras empresas. Uma das inovações importantes desse convênio é estimular a ação em redes entre várias fundações de amparo à pesquisa”, afirmou.


Contribuição paulista

Brito Cruz destacou que o acordo representa uma associação entre a capacidade tecnológica e científica do Estado de São Paulo com aplicações relevantes para uma empresa de grande importância nacional.

“Mais da metade da ciência brasileira é produzida em São Paulo, onde há cerca de 30% dos cientistas do país. Isso significa que temos uma operação científica de grande importância, que gera inúmeras possibilidades de cooperação com empresas de grande porte que enfrentam grandes desafios tecnológicos”, disse.

Segundo ele, para a FAPESP é importante equilibrar as três atividades essenciais à Fundação: apoio à formação de recursos humanos, apoio à pesquisa acadêmica e apoio à pesquisa com vistas à aplicação. Nessa última, insere-se o acordo com a Vale.

“Esse acordo é especialmente importante para nós porque, face aos grandes desafios no âmbito da ciência e tecnologia brasileira e paulista, ele induz a intensificação da atividade de pesquisa no mundo empresarial. O Brasil é muito forte na pesquisa acadêmica, mas fraco na pesquisa empresarial. Mas a Vale tem um grande esforço interno de pesquisa e desenvolvimento que possibilita colaborações com universidades de uma maneira eficaz”, disse.

De acordo com Arnaldo Jardim, o acordo sinaliza que a pesquisa e a ciência estão sendo tratadas como prioridades no Estado de São Paulo. “A FAPESP é sem dúvida um espaço de convergência para as iniciativas do governo e da sociedade no sentido de fazer avançar o conhecimento”, disse o deputado federal.

Alberto Goldman afirmou que as características do acordo permitem o avanço do conhecimento aplicado, necessário à empresa, mas também contribuirá com a ciência básica. “A FAPESP está cumprindo seu papel de forma brilhante, pois o acordo trará certamente benefícios à empresa, mas também alavancará o nosso conhecimento”, disse.

O vice-governador observou que, embora a Vale não tenha áreas de produção em São Paulo, a excelência do sistema de ciência e tecnologia paulista poderá contribuir de forma contundente com o avanço do conhecimento na área de mineração, para a empresa e, especialmente, para o país.

“Em São Paulo não temos grandes jazidas de minerais, mas temos importantes recursos humanos e infraestrutura de pesquisa. O fato de disponibilizarmos recursos para trazer uma contribuição não apenas para São Paulo, mas para todo o Brasil, é algo que nos enche de orgulho”, afirmou.

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