Rodovia vs. ferrovia ou rodovia + ferrovia?
Por Samir keedi*
É de conhecimento geral que há tempos o País vem travando uma luta desnecessária, tendo de um lado a rodovia e de outro, a ferrovia. A perda com isso é de ambos os modos, e, em especial, da sociedade brasileira. A ferrovia teve início em 1854, e prosperou até o final da década de 40 do século XX, quando atingiu o seu ápice em tamanho, com 36 mil quilômetros. A partir daí decresceu, tendo hoje 29 mil quilômetros.
Podemos conjecturar que a decadência deveu-se à chegada da indústria automobilística, na década de 50 do século passado. Mas não pretendemos colocar a indústria automobilística nesse papel. Essa maravilhosa indústria merece todos os nossos elogios. Até porque, se tivéssemos de escolher apenas um modo de transporte entre todos, ele seria o veículo rodoviário, sem qualquer dúvida. E pela simples razão de que ele é o único veículo capaz de fazer transporte ponto a ponto, permitindo a distribuição de mercadorias e as levando à população em quase todos os lugares.
É fácil imaginar o que teria ocorrido com a economia brasileira, e sua chance de crescimento, o que ainda pode acontecer se dermos mais atenção à ferrovia. E se a utilizarmos nas longas distâncias. Essa mudança na matriz de transporte, com transferência de cargas do modo rodoviário para o ferroviário, significaria, de imediato, uma redução nos custos de transporte, implicando em mercadorias a preços menores nas prateleiras do varejo, com mais consumo, pois é isso o que ocorre com qualquer renda extra.
Assim, não há como discutir a importância da ferrovia e o que ela pode representar para o País. Portanto, devemos lamentar o Estado ter relegado a ferrovia a essa situação, imaginando-a descartável. Mas nem tudo está perdido, já que o Estado foi obrigado a privatizar as suas operações. Hoje a ferrovia está renascendo, tendo passado de 18% a 26% da carga.
É bom que tanto a rodovia quanto a ferrovia se conscientizem da importância da distribuição de mercadorias para um país como o nosso, em especial do quanto vale o povo brasileiro, que é a razão de ser de qualquer ação econômica nacional. Assim, uma união dos dois modos traria apenas melhorias e crescimento a ambos.
Se houver uma conscientização, e esta levar a uma divisão coerente da carga, em que cada um faz aquilo que é melhor, ambos ganharão. Não é necessário, para que um lado ganhe, que o outro tenha de perder, e isso já é hoje um pensamento mais comum. Utilizar as competências adequadas de cada um significa apenas dividir a carga de modo a que ambos, mais a sociedade, possam tirar disso o melhor proveito.
A lógica manda que a ferrovia tenha a carga que deve ser transportada a grandes distâncias, com isso reduzindo seus custos finais. A rodovia, por sua vez, deve ficar com a carga a ser transportada entre pequenas distâncias, num limite julgado ótimo, de no máximo 400 a 500 quilômetros.
E vide que essas distâncias, além de boas para o custo final de transporte e, por consequência, da própria mercadoria, é também ideal para o próprio transportador rodoviário. Aplique-se a isso o mesmo raciocínio que ocorre numa corrida de táxi, em que as viagens mais curtas são mais rentáveis do ponto de vista preço/quilometragem em face da bandeirada.
Portanto, fácil é verificar que se o transportador rodoviário realizar apenas transportes de curta distância, maior será a sua receita relativa, cobrindo melhor seus custos. Assim, o ideal seria a sua perda de cerca de 25/30 pontos percentuais, ou metade de sua carga, ficando com apenas cerca de 30% da carga a ser transportada, aquela de ligação com outros modos e de distribuição.
Com o transporte ferroviário a realizar a transferência de carga a grandes distâncias, e a preços mais baixos de fretes e mercadorias -cuja consequência é o aumento da atividade econômica-, a economia seria alavancada e cresceria mais sustentadamente. Assim, não é difícil perceber que os transportes rodoviário e ferroviário não são, em qualquer hipótese, antagônicos, mas complementares: um precisa do outro. Os dois juntos representam uma poderosíssima arma de logística a serviço da economia nacional.
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*Samir keedi é economista, professor da Aduaneiras e universitário e autor de livros e artigos sobre comércio exterior.
Fonte: DCI - 20/11/09
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