Luis Carrasco, de O Estado de S.Paulo
Uma pesquisa brasileira revelou que a mutação de dois genes pode aumentar em quase 50% a probabilidade de uma pessoa ser fumante. Os resultados foram publicados na revista científica PLoS ONE.
Tiago Queiroz/AE
Descoberta pode levar à criação de remédios para dependentes com diferentes tipos genéticos
O estudo, feito com a amostra de sangue de 531 voluntários, mostra que os dois genes estão associados diretamente ao glutamato, neurotransmissor relacionado à sensação de prazer, e ao sistema nervoso central, onde a nicotina atua.
A pesquisadora Vanessa Santos, responsável pelo estudo realizado na PUC-RS, acredita que a descoberta pode ajudar na futura produção de remédios personalizados - direcionados para dependentes com diferentes tipos de patrimônio genético.
"Hoje, as empresas lançam um remédio para a população em geral e vê se dá resultado", afirma. "A tendência é que, no futuro, nós possamos focar em uma pessoa e fazer o tratamento dar certo."
Multifatorial. Embora os dois genes sejam clinicamente relevantes para identificar uma predisposição à dependência de nicotina, a pesquisadora lembra que o tabagismo é uma doença multifatorial e, por isso, varia de pessoa para pessoa de acordo com aspectos sociais e comportamentais.
"Não podemos prevenir o tabagismo somente verificando esses dois genes", afirma. "Essa doença é um grande quebra-cabeça, e a nossa pesquisa fornece aos profissionais de saúde um maior conhecimento sobre ela."
Para o coordenador do Programa de Controle do Tabagismo do hospital universitário da PUC-RS, José Chatkin, que orientou a pesquisa, remédios baseados em perfis genéticos podem ajudar pessoas com dificuldade para largar o vício, mas não serão efetivos se aplicados de forma isolada.
"Pela genética se consegue determinar qual o melhor fármaco para a pessoa A ou para a pessoa B, mas o sucesso do tratamento ainda vai depender da vontade do fumante de querer parar."
De acordo com o médico Gustavo Prado, pneumologista que estuda tabagismo no Instituto do Coração (Incor), a pesquisa apresenta números relevantes, mas ainda não é possível afirmar que o polimorfismo de dois genes é o causador da dependência de nicotina.
"Substâncias codificadas por esses genes, como o glutamato, podem estar envolvidas nas alterações funcionais do sistema nervoso que predispõem uma pessoa ao desenvolvimento de doenças como a dependência da nicotina, mas os resultados ainda devem ser vistos com cautela", afirma o médico.
Novos tratamentos. Em busca de soluções inspiradas na engenharia genética, pesquisadores da Weill Cornell Medical College, nos EUA, desenvolveram uma nova vacina contra a nicotina.
O tratamento, aplicado em camundongos, consiste em mapear a sequência genética necessária para produzir anticorpos antinicotina. O DNA resultante é inserido em vírus, que, injetados nos dependentes, espalham-se pelo organismo e ajudam a potencializar a produção de anticorpos.
"Até onde sabemos, a melhor maneira de tratar o vício é ter anticorpos de patrulha, limpando o sangue antes que a nicotina possa ter algum efeito biológico", afirma o coordenador da pesquisa, Ronald Crystal.
O estudo, publicado na revista científica Science Translational Medicine, mostra que a concentração de nicotina no cérebro de camundongos dependentes diminuiu 85% depois da vacina.
Crystal diz que o tratamento só poderá ser testado em humanos daqui a alguns anos, depois de mais estudos.
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